"Dirijo devagar, tenho pressa de chegar, pois amar e mudar as coisas me interessa mais! Em qual para-choque você leu que a vida seria fácil?"

Sozinhos, esses homens e mulheres atravessam o País. No para-choque suas frases mostram as personalidades e mandam recados aos que cruzam seus caminhos. Conhecendo todos os tipos de paisagem, gentes e rodovias, com suas curvas acentuadas, leves, longas retas e centenas de quilômetros diários em um caminhar, ou melhor rodar, cansativo, estressante, muitas vezes perigoso, onde a música, a fé, o café, chimarrão ou tereré ajudam no passar das horas, e o momento de parar para as refeições ou uma simples ida ao banheiro, o olhar o céu, seja estrelado, ensolarado ou chuvoso é o divertimento da rotina de solidão e, paradoxalmente, de aprendizado diário.
O caminhão é a sua casa, já que o seu trabalho é viver nessa boleia de ir e vir por nosso tão grande Brasil, lembrando que a distância do Chuí (RS) ao Oiapoque (AP) é de 4.175km, porém, a distância de condução é de 5.646km, aproximadamente 4 dias e 10 horas, segundo o Google - acreditando que durante este caminho não ocorram problemas e que as rodovias estejam em boas condições, o que sabemos que no Brasil não é bem assim, mas isso seria assunto para outro artigo.
Voltando às paradas, além do momento de esticar o corpo, fazer as refeições, é o momento de também alimentar a alma, rever os amigos do trecho e contar novas histórias.
Neste momento de pandemia em razão da covid-19, os caminhoneiros, classe trabalhadora, sofrida e lembrada em momentos pontuais pela maioria da sociedade, ganhou notoriedade. Enquadrados na classe dos serviços essenciais, para que cada cidade deste imenso Brasil continue recebendo produtos alimentícios, hospitalares, industrializados, ou quaisquer que sejam, os caminhoneiros não pararam. Enquanto para a segurança de todos o lema é ficar em casa, o deles é cruzar o Brasil para cuidar de nós, mesmo não conhecendo esse “nós”.
No Brasil afora, as concessionárias, além da segurança viária, estão com ações voltadas não só para caminhoneiros, mas para todos os usuários com comunicação, informação, distribuição de máscaras, álcool em gel, uma enorme mobilização para conter o avanço da covid-19.
Quem passar pela Ponte Rio Niterói receberá informações, encontrará ações e mobilizações contra a Covid-19 e, além de ganhar o sorriso do trabalhador diário, ganhará a esperança por dias melhores e a certeza que tudo voltará a ficar bem.
O importante é que cada um faça sua parte neste período e que o medo não nos tome conta! Cuide da sua boleia, limpando e desinfetando a cabine, objetos e superfícies que são tocados, seja com água e sabão ou álcool em gel, mantenha sua cabine sempre com ventilação, se for mexer na parte externa do veículo lave as mãos. Lavar as mãos deve ser constante, mas vocês são caminhoneiros, dessa forma o constante é a higienização com álcool em gel.
Nas paradas dos trechos, aquela conversa em roda, em torno do caminhão e fogareiro, deve ser evitada. Mantenham a distância mínima de 1,5m durante as conversas e, no lugar dos abraços calorosos e fortes apertos de mão, apenas os cotovelos se tocando.
Neste momento o compartilhar de copos, talheres, toalhas precisa ser suspenso. Nessa longa estrada da vida, com certeza vocês já vivenciaram muitas coisas que me fogem, e que eu amaria poder conhecer, pois amo histórias contadas e aprenderia muito.
Neste momento, se estiverem lendo, por favor, cuidem-se: lavem bem as mãos quando puderem, na falta da água usem o álcool em gel, ao usarem os banheiros das estradas lembrem das mães de vocês ensinando como usar o banheiro sem tocar. Esta lembrança maternal faz toda a diferença em tempos de vírus e traz uma alegria quente ao coração.
Desejo que continuem levando o coração de vocês pelo Brasil, entregando ou pegando uma carga, e que não pensem na solidão da boleia e, sim, nos agradecimentos e carinhos que estão recebendo pelo Brasil afora. E que o fim do termo saudade ocorra quando voltarem às suas casas em segurança e reverem sua família. Primeiro tomem um longo banho, afinal, vocês a amam e por amor temos que cuidar dos outros. Um caloroso toque de cotovelo a todos vocês, meu profundo respeito e obrigada! Juntos, venceremos essa batalha! Viva a Vida!
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Priscilla Lundstedt Rocha - Especialista em Gestão, Educação e Segurança no Trânsito.
E-mail: priscillarochacontatos@gmail.com Instagram: @priscilla_lundstedt_rocha
FONTE:
ROCHA, Priscilla Lundstedt Rocha. Covid-19: lições para caminhoneiros. In: Revista ECOPONTE. Ano 6 no 58, abril de 2020.
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