domingo, 26 de abril de 2020

O liame de concreto sobre a Baía de Guanabara

EDUCAÇÃO E SEGURANÇA PARA O TRÂNSITO


Por: Priscilla Lundstedt Rocha

A Ponte Rio Niterói liga duas cidades: Rio de Janeiro e Niterói, separadas pela Baia de Guanabara tendo como extensão 13 km. Diariamente atravessam milhares de carros, motos, ônibus, caminhões carregando vidas e histórias. Muitos têm fetiche, desejo de atravessar, outros medo; e, entre o desejo e  o medo há a segurança viária.

O atravessar: verbo, em seu sentido de transitivo direto, ou seja, passar para o outro lado, neste caso por cima, sem qualquer tipo de problema, pois há toda segurança e  infraestrutura viária para esta travessia. Cabe aqui também o atravessar, em seu sentido indireto, ou seja, ir além, deixar para trás, ultrapassar...

Talvez fosse assim a melhor definição do passado, não em relação a sua descrição e segurança, mas no nosso mundo contemporâneo e tamanha evolução do ser humano o ato de atravessar pensado como um verbo transitivo, ou intransitivo de passar, cruzar perdeu-se...

O atravessar tornou-se uma aventura por vezes perigosa e irresponsável por nossa culpa, ou falta de responsabilidade moral, a nos mesmos e a outrem.

Em grandes cidades rodeadas de concretos, luzes brilhantes, relógios sempre atrasados, todos com pressa, calçadas sem sombras, pessoas robotizadas, não se olham, não conversam. No carro, em grande maioria, estamos sós, com o rádio para escutar as últimas notícias, e a nos escutar, janelas fechadas, ar ligado e nas mãos o celular para sucumbir as fake news, moda contemporânea, selfies ou simplesmente cuidar da vida alheia; e infelizmente atrapalhar o trânsito e causar grandes acidentes, além das ultrapassagens, excesso de velocidade desnecessário, ou parecer fazer tricô ao chegar ao pedágio...

Muitos acreditam que não há perigo no uso do celular ao volante, principalmente quando nos encontramos em um engarrafamento, mas este mau hábito não só coloca a nossa vida em risco como a dos outros. E se olharmos ao redor, mesmo com nossas janelas fechadas todos estão com os olhos em seus smartphones, proibido por Lei Federal (CTB), que todos sabem, mas poucos respeitam. Segundos ao enviar uma mensagem, ou responder um aúdio que podem matar, pelas estatísticas de trânsito fala-se em aumentar o risco de um acidente de trânsito em 400%.

Amar ao próximo como a si mesmo é um dos preceitos fundamentais da vida civilizada, já dizia Freud, e também o que mais contraria o tipo de razão que a contemporaneidade promove: a razão do interesse próprio e da busca da felicidade, o que encontramos diariamente no trânsito, e que precisamos mudar com a educação. Piaget já dizia que o principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram, então que façamos coisas novas e com responsabilidade, e deixar de usar o celular ao volante é um deles. Deixe ele de lado! Atravesse a Ponte, siga a vida em segurança!

Aceitar esse preceito é um ato decisivo, pelo qual o ser humano rompe a couraça dos impulsos, ímpetos e predileções ‘naturais’. É o ato de origem da humanidade, além de ser passagem para a sobrevivência da moralidade.
Assim como cada viga de aço da ponte tem história, as vidas que passam também, só que as de aço se imortalizam no concreto, as que passam, atravessam e seguem o seu caminho. Não estamos prontos, aprendemos no caminhar...

Que possamos reaprender nossas condutas no trânsito ao atravessar as ruas respeitando as faixas de pedestres, os sinais de trânsito, o ciclista, usar o cinto de segurança, o equipamento de retenção da criança, respeitar a velocidade da via, usar o capacete de forma correta,  não beber se for dirigir.

Voltando a nossa PONTE, este liame de concreto, este cartão postal histórico, que tem o mais belo pôr do sol do mundo, e me desculpe Alfred Hitchcock quando ele citou Zadar na Croácia, pois ele não conheceu a Ponte Rio Niterói.

Que atravessemos em segurança, respeitando as regras de trânsito, mas principalmente nos respeitando. A nossa vida, que é única! Que possamos atravessar a vida! Boa Leitura!
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Priscilla Lundstedt Rocha - Especialista em Gestão, Educação e Segurança no Trânsito
FONTE: ROCHA, P. L. O liame de concreto sobre a Baía de Guanabara. In: Revista ECOPONTE. Ano 5 no 53, novembro de 2019.

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sábado, 25 de abril de 2020

No trânsito o 'inferno' são os outros


EDUCAÇÃO E SEGURANÇA PARA O TRÂNSITO


Por: Priscilla Lundstedt Rocha 

Escrever ou falar sobre o que mais amo, educação para o trânsito, comportamento do ser humano no trânsito, é um missão árdua quando nos deparamos com o problema: nós, seres humanos estamos cada vez mais maquinizados, automatizados, buscando cada vez mais a inteligência artificial, a vida on-line como meio de amenizar a nossa angustia, solidão, o medo de lidar com o nosso pior inimigo: nós mesmos para tentarmos suprir a carência do eu, paradoxalmente em um  mundo que cada vez mais se fala de ATITUDE, precisamos de fato ser PROATIVOS! Mas como se nos massificamos / alienamos dia a dia? 

Somos animais sociais, vivemos em grupo, desta forma temos que exercer a nossa sociabilidade, sem esquecer a nossa humanidade, cidadania, ética e comprometimento consigo e com o outro; e no trânsito pensar no outro é primordial, exercer a DIREÇÃO DEFENSIVA e pensar na prevenção. Temos que ser virtuosos no trânsito e em toda a vida.

Assim, podemos depreender que, para alcançar a harmonia no trânsito, precisamos valorizar o hábito de agir em prol do bem comum, antes do interesse particular momentâneo. Isso se mostra até mesmo em pequenos atos de gentileza, como respeitar aquele que pretende cruzar uma faixa de pedestres, ainda que estejamos com pressa, ou não estacionar numa vaga reservada para idosos ou deficientes físicos, ainda que não exista nenhuma outra livre por perto, não jogar lixo no chão, respeitar a velocidade da via, dar sinal de seta, etc...

Costumamos frequentemente ouvir que o problema do trânsito, ou qualquer outro problema decorre dos “outros”, dos governantes e autoridades; no caso do trânsito, os maus motoristas e motociclistas, os pedestres desrespeitosos e desatentos, os veículos que desgovernam ou falham, os ciclistas (...) nunca confessamos SERMOS parte deste problema, sempre buscamos uma justificação para o NOSSO comportamento inapropriado.

O inferno são os outros, a máxima de Sartre remete ao nosso drama social mais intenso. Precisamos começar a nos olhar, pois o inferno é cada um de nós, cada qual a sua medida.

Tudo resume-se na MUDANÇA DE COMPORTAMENTO HUMANO, assim sendo devemos nos olhar e analisarmos nossas ações, condutas e tentar SER e FAZER a diferença no trânsito e na vida, só desta forma teremos um trânsito mais gentil, mais humano, mais feliz, mais otimista!

Devemos reafirmar um contrato social a fim de reestabelecermos uma ordem que nos tire desse “estado de natureza no trânsito”, onde todos parecem estar contra todos e prevalece o mais forte, potente, maior e onde cada indivíduo/veículo parece agir como um “lobo” do próprio homem, cada dia mais desumano.

Para assegurar a paz e a defesa e nos reumanizarmos no trânsito dependerá das repetidas ações individuais de cada um para o bem comum. Que possamos ser a diferença, pois, o discurso do “SE”, no trânsito é tarde demais! Que cada um hoje e sempre possa SER e FAZER a diferença e que busquemos a nossa grandeza com dignidade e respeito ao outro, pois, a miséria já nos é conhecida.

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Priscilla Lundstedt Rocha -Especialista em Gestão, Educação e Segurança no Trânsito
FONTE: ROCHA, P. L. No trânsito o 'inferno' são os outros. Revista ECOPONTE. Ano 5 no 52, outubro de 2019.