No último domingo 24 de março de 2019, alunos fizeram a prova do concurso da UFF, cargo de assistente administrativo.
O tema de redação proposto pela banca COSEAC foi: “acidentes de trânsito no Brasil: fatores motivadores e ações educativas”. É válido destacar que o assunto foi cobrado recentemente pela banca Cespe, no concurso da PRF. O que isso quer dizer? Que é um tema potencial neste ano? Tema da moda? Por que falar de trânsito?
Resposta simples: AS PESSOAS ESTÃO MORRENDO!
Vivemos em estado de guerra diária no trânsito, preconceitos raciais, sociais e de gênero e não nos damos conta, pois não conseguimos enxergar além dos nossos narizes.
Pelas estatísticas a cada 25 segundos há um acidente de trânsito no mundo; no Brasil a cada 57 segundos há um acidente e a cada 11 minutos e 21 segundos alguém morre vítima de um acidente de trânsito. O que eu tenho de responsabilidade sobre esses dados?
TUDO, POIS EU SOU O TRÂNSITO! E meu comportamento no trânsito faz a DIFERENÇA. No trânsito não posso ser INDIFERENTE!
E completando a resposta: quando não morrem os sobreviventes acabam ficando sequelados.
Nossos filhos, sobrinhos, netos....nossos jovens estão morrendo .... E nos não fazemos nada!
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMC), um milhão de crianças entre 0 a 14 anos morrem em decorrência de acidentes todos os anos ao redor do mundo e cerca de 50 milhões ficam com sequelas permanentes.
No Brasil, os acidentes representam a principal causa de morte de crianças entre 0 à 14 anos.
Os números apresentados só reforçam a necessidade e urgência da importância do tema trânsito, sobretudo no campo educacional.
É um tema de urgência social, tendo em vista as vidas que são dizimadas diariamente por conta de lesões decorrentes do atual modelo de mobilidade: 186.300 crianças (entre 0 e 14 anos) morrem a cada ano no trânsito, em todo o mundo – isso representa mais de 500 crianças por dia.
As lesões ocasionadas no trânsito estão entre as primeiras causas de morte de crianças acima de cinco anos de idade, 3.143 crianças e jovens entre 0 e 17 anos morreram no trânsito brasileiro em 2013.
Um estudo organizado pela Organização Mundial de Saúde mostrou que em 2009 aconteceram perto de 1, 3 milhão de mortes por acidentes de trânsito em 178 países do mundo.
A OMS estima que deveremos ter 1,9 milhão de mortes no Trânsito em 2020, e 2,4 milhões em 2030.
Entre 20 e 50 milhões sobrevivem com traumatismos e feridas.
Os acidentes representam um custo global de 518 bilhões de dólares/ ano.
Os acidentes representam a terceira causa de mortes na faixa de 30-44 anos; a segunda na faixa de 5 - 14 e a primeira na faixa de 15- 29 anos de idade.
Devido a esses números alarmantes a ONU, por uma resolução propôs a: "Década Mundial de Ações Para a Segurança no Trânsito - 2011/2020" em todo o mundo e cada país fez sua proposta para redução de acidentes e segurança viária.
E VOLTANDO ao Brasil: A média de mortes no Brasil por dia é de +- 150 mortos/dia (vítimas ou causadores de acidentes de trânsito).
No Brasil a maior parte das vítimas é o que chamamos de categoria vulnerável: pedestres, ciclistas e motociclistas.
E por falar em motociclistas, nos últimos doze anos a frota de motocicletas aumentou 300% mais que a de carros.
Em um mundo que cada vez mais se fala de ATITUDE, precisamos de fato ser proativos!
Somos animais sociais, vivemos em grupo, desta forma temos que exercer a nossa sociabilidade, sem esquecer a nossa humanidade, cidadania, ética e comprometimento consigo e com o outro, e no trânsito pensar no outro é primordial, exercer a Direção Defensiva e pensar na prevenção. Temos que ser virtuosos no trânsito e em toda a vida.
A virtude é uma qualidade moral particular que denota a disposição de um indivíduo para praticar o bem, não se tratando de uma característica nata, ao invés disso se apresentando como uma forma de conduta, representada pela repetição constante de atos motivados pela vontade do homem em prol do bem.
Para ser “do bem”, na visão de Aristóteles, devemos ser úteis à comunidade na qual estamos inseridos, e, com nossa utilidade, seremos felizes, otimistas. Nessa visão, a felicidade/otimismo não é entendida como um estado, mas como um processo em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento.
Assim, podemos depreender que, para alcançar a harmonia no trânsito, precisamos valorizar o hábito de agir em prol do bem comum, antes do interesse particular momentâneo. Isso se mostra até mesmo em pequenos atos de gentileza, como respeitar aquele que pretende cruzar uma faixa de pedestres, ainda que estejamos com pressa, ou não estacionar numa vaga reservada para idosos ou deficientes físicos, ainda que não exista nenhuma outra livre por perto, não jogar lixo no chão, não acelerar no sinal amarelo, respeitar a distância lateral ao passar ou ultrapassar bicicleta, que é de um metro e cinqüenta centímetros...
Costumamos frequentemente ouvir que o problema do trânsito, ou qualquer outro problema decorre dos “outros”, os governantes e autoridades; no caso do trânsito, os maus motoristas e motociclistas, os pedestres desrespeitosos e desatentos, os ciclistas, os veículos que desgovernam ou falham, quase nunca confessamos SERMOS parte deste problema, sempre buscamos uma justificação para o NOSSO comportamento inapropriado.
O inferno são os outros, a máxima de Sartre remete ao nosso drama social mais intenso.Precisamos começar a nos olhar, pois o inferno é cada um de nós, cada qual a sua medida.
Tudo resume-se a MUDANÇA DO COMPORTAMENTO HUMANO, assim sendo devemos nos olhar e analisarmos nossas ações, condutas e tentar SER e FAZER a diferença no trânsito, só desta forma teremos um trânsito mais gentil, mais humano, mais feliz, mais otimista e mais seguro!
Devemos reafirmar um contrato social a fim de re- estabelecermos uma ordem social que nos tire desse “estado de natureza no trânsito”, onde todos parecem estar contra todos e prevalece o mais forte, onde cada indivíduo parece agir como um “lobo” do próprio homem, cada dia mais desumano, para passar a assegurar a paz e a defesa comum, e nos reumanizarmos no trânsito.
O resultado para todos dependerá das repetidas ações individuais de cada um para o bem, ou seja, se cada um for virtuoso, todos passarão a ser.
Niterói conseguiu reduzir os acidentes de trânsito em 85%. Em 2018, a Lei nº 13.614 acrescentou ao Código de Trânsito Brasileiro a criação dos Pnatrans: Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, e em seu art. 326 - A do CTB:
“Art. 326-A. A atuação dos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito, no que se refere à política de segurança no trânsito, deverá voltar-se prioritariamente para o cumprimento de metas anuais de redução de índice de mortos por grupo de veículos e de índice de mortos por grupo de habitantes, ambos apurados por Estado e por ano, detalhando-se os dados levantados e as ações realizadas por vias federais, estaduais e municipais.
§ 1o O objetivo geral do estabelecimento de metas é, ao final do prazo de dez anos, reduzir à metade, no mínimo, o índice nacional de mortos por grupo de veículos e o índice nacional de mortos por grupo de habitantes, relativamente aos índices apurados no ano da entrada em vigor da lei que cria o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans)."
O que foi acrescentado no CTB em 2018, Niterói já vinha realizando ao longo dos últimos anos visando maior segurança e mobilidade, um dos direitos fundamentais garantidos pela constituição e, que possibilita o desenvolvimento das cidades e a inclusão social, pois compreendemos a mobilidade como um fenômeno social complexo e interdisciplinar, que envolve as áreas de saúde, planejamento urbano, transporte, trânsito, legislação, educação, entre outras.
A NITTRANS com seu Departamento de Educação para o trânsito propõe uma educação para o trânsito com base em um arranjo coletivo e multissetorial que permite ações integradas e, ao mesmo tempo, a influência de um fator sobre o outro, podendo gerar medidas mais apropriadas nas abordagens de segurança no trânsito sempre com base nos pilares: educação, esforço legal, ou seja a presença de nossos agentes na rua, a fiscalização e engenharia.
Varias ações, campanhas, são meios de promover o debate sobre o tema trânsito para a sociedade; além das palestras em escolas, empresas, campanhas de rua, treinamentos com os agentes de trânsito, capacitações em educação para o trânsito para professores e distribuição de material educativo sempre com grandes parcerias que acreditam na educação pra o trânsito, e principalmente na educação como fator primordial de transformação humana.
Esses números impõem um desafio de construir um trânsito mais seguro para a atual e futuras gerações.
[reconhece-se que] é responsabilidade compartilhada buscar um mundo livre de mortes e lesões graves no trânsito, e que lidar com a segurança no trânsito exige colaboração entre múltiplos atores. (Declaração de Brasília, p. 2)
A educação desempenha um importante papel no sentido de intervir em objetos que lhe dizem respeito: a mudança de comportamento, transformação das questões culturais, e construção da percepção de risco. Mas existem ainda outros aspectos que irão influenciar e, em alguns momentos, até mesmo determinar condições para a ocorrência de lesões e mortes decorrentes do trânsito.
Dessa forma, não podemos acreditar que programas de educação para o trânsito e campanhas de segurança no trânsito, atuando de forma isolada, sejam capazes de obter resultados significativos para a redução dos acidentes e das lesões causadas por eles. Precisamos unir e somar forças cada vez mais, pois JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!
Disseminação do conhecimento para todos os “atores” relacionados ao trânsito, garantindo fácil acesso aos subsídios técnicos necessários para a mudança de ATITUDE no trânsito.
O que de’’ fato precisamos é “suspender nosso juízo” e analisar nossas mudanças, condutas, ações e FAZERMOS a diferença, não apenas no TRÂNSITO, mas na VIDA, afinal “NO TRÂNSITO, O SENTIDO É A VIDA” E NO TRÂNSITO PRECISAMOS DAR SENTIDO A VIDA, e com nosso LIVRE ARBÍTRIO escolhermos os nossos CAMINHOS.
Que TODOS possam ser a diferença no trânsito, pois a partícula condicional "SE", no trânsito é tarde demais!
Que nossas mãos não apenas teçam o trabalho rude como já disse o poeta Drummond e nossos corações não estejam secos, mas sim abertos para viver, sentir, os átimos da vida.
Priscilla Rocha
Coordenadora Departamento de Educação para o Trânsito- NITTRANS - Prefeitura Municipal de Niterói
*imagens usadas no PPT nas Palestras de Educação para o Trânsito para público adulto e retiradas da internet.
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